29.3.11

DONALDO SCHÜLER – DOS GREGOS AOS GAÚCHOS



Trechos da entrevista com o escritor para o volume Donaldo Schüler (1999), da série Autores Gaúchos, do IEL.


A Grécia veio primeiro. Nunca tive intenção de ser escritor. Vi que na Grécia nada estava pronto. É por isso que se escreveu tanto sobre a Grécia, ou a partir da Grécia. Quem pensa sobre a Grécia começa a escrever, começo que não tem fim.

24.3.11

Meu querido Carlinhos

Liana Timm assina o design e capas dos quatro volumes
        Em 2002, o IEL publicou, em quatro volumes, Teatro reunido, de Carlos Carvalho. No volume 1, estão as peças que nunca foram encenadas; os textos infantis foram reunidos no segundo; e os volumes 3 e 4 incluem as peças cujas datas da primeira montagem estão registradas no fascículo da Coleção Autores Gaúchos dedicado ao autor. Leia aqui o prefácio da obra, escrito pelo diretor teatral, dramaturgo, ator, poeta e historiador Luiz Paulo Vasconcelos.
 


Garopaba, 9 de fevereiro de 2002

Meu querido Carlinhos

A Cíntia Moscovich convidou-me a escrever uma apresentação para a edição de tuas peças, que o IEL em boa hora publica. Conhecendo como te conheci, temi o que poderias vir puxar-me, caso dissesse não. Assim, pois, aceitei.     


TRECHOS DO ACERVO

No volume 1, estão reunidas
oito peças nunca encenadas
        Nunca encenada, a peça Noite de reis, de Carlos Carvalho, está no primeiro dos quatro volumes de Teatro reunido, publicados pelo IEL em 2002. Confira a íntegra do texto:


NOITE DE REIS

CARLOS CARVALHO


CENÁRIO

Noite. Aposentos do Rei. O silêncio é quebrado apenas por uivos de cães noturnos. O Rei está sentado no centro da grande cama, de camisolão branco, coroa e cetro, visivelmente amedrontado. Embora seja inverno, transpira muito. Alguém se aproxima. O Rei se encolhe. O Rei é cego.


Volnyr Santos sobre Carlos Carvalho

O dramaturgo. Arte: Liana Timm
       As Anotações bibliográficas que acompanham os quatro volumes de Teatro reunido, de Carlos Carvalho, levam a assinatura do poeta, doutor em Letras e professor de Literatura Volnyr Santos.

         Talvez o modo de melhor sintetizar a vida e a obra de Carlos Carvalho seja a sua afirmação de que não cabe à Literatura apontar soluções. No seu entendimento, a grande contribuição que ela faculta é a denúncia de toda uma problemática destruidora do ser humano, acrescentando que é, com esse homem, em nível social, mesmo invariavelmente exposto como figura individual, que a arte tem compromisso.


Carlos Carvalho por Ivo Bender

Os quatro volumes estão

disponíveis na Livraria do IEL
Ivo Bender assina a orelha do primeiro dos quatro volumes de Teatro reunido, de Carlos Carvalho, publicados pelo IEL em 2002. No livro, estão as peças que nunca foram encenadas.

Carlos Carvalho, homem de múltiplas facetas artísticas, com atuação na área da narrativa, da direção teatral e do ensino do teatro, é autor de um vasto número de obras para a cena. Com um agudo sentido do humano, Carlos Carvalho marca seus textos com um humor patético o qual, seguidamente, se abeira da crueldade – veja-se a personagem de D. Querida, em PT saudações




15.3.11

SCLIAR E OS 50 ANOS DA CAMPANHA DA LEGALIDADE


Capa do livro "Nós e a Legalidade"



    No marco de 50 anos da Campanha da Legalidade, resgatamos aqui o testemunho do escritor Moacyr Scliar sobre aquele movimento de 1961. O relato completo está incluído no livro Nós e a Legalidade, editado pelo IEL.

13.3.11

-LARA DE LEMOS e O COCHILO DO VERDUGO

 
       Neste texto especial para o blog do Instituto Estadual do Livro, Maria Carpi presta homenagem à poeta, professora e jornalista Lara de Lemos (1923-2010), a quem foi dedicado o 14º fascículo da série Autores Gaúchos (1987). De Lara, o IEL também publicou Amálgama (1974), Lara de Lemos: antologia poética (2002, organizado por Volnyr Santos) e Passo em falso (2006), sua última obra.

Lara de Lemos, poeta editada pelo Instituto Estadual do Livro, na foto com Mario Quintana



  


Essas coisas verdadeiras podem não ser verossímeis.
Graciliano Ramos (Memórias do Cárcere)
    
        Em todos os regimes despóticos, pessoas tombam e outras sobrevivem. Os sobreviventes têm a missão de falar pelos que tombam. A violência, segundo Hannah Arendt, é a desintegração do poder que, inerente à comunidade política, se configura como a capacidade para agir em conjunto. Na tirania não há escolha nem consenso, apenas um funil ideológico por onde são empurrados os indesejáveis. Isso ocorreu em todos os tempos e em todas as ditaduras e fundamentalismos. E os sobreviventes são o cochilo do verdugo.

11.3.11

À procura da poesia
Pedro Stiehl

MAIS INFORMAÇÕES
Passa da meia-noite
os vizinhos continuam rindo muito
falando alto 
enchendo a casa de alegria.
Eu aqui sozinho neste quarto
na suspensa sombra da procura
já perdi, por baixo, dois ou três poemas
– não pousaram decerto por não os merecer.

Não os condeno
se foram procurar sua poesia
na casa ao lado.


Poema do livro Breviário profano
                           (IEL, 2000, 104p)

10.3.11

TRECHOS DO ACERVO

NOS POÇOS

                 Primeiro você cai num poço. Mas não é ruim cair num poço assim de repente? No começo é. Mas você logo começa a curtir as pedras do poço. O limo do poço. A umidade do poço. A água do poço. A terra do poço. O cheiro do poço. O poço do poço. Mas não é ruim a gente ir entrando nos poços dos poços sem fim? A gente não sente medo? A gente sente um pouco de medo mas não dói. A gente não morre? A gente morre um pouco em cada poço. E não dói? Morrer não dói. Morrer é entrar noutra. E depois: no fundo do poço do poço do poço do poço você vai descobrir quê.

                      
 CAIO FERNANDO ABREU
            Conto do livro O ovo apulhalado
                                   (IEL, 1975, 156p)

Leia também:


3.3.11

Levitan abre a mala de poemas de Nei Duclós

Levitan também assina
a capa e as ilustrações
Anos 70. Poemas reunidos em uma velha mala em Blumenau. Um encontro entre Nei Duclós, Cláudio Levitan, Juarez Fonseca e Caio Fernando Abreu à beira do Guaíba, em Ipanema. E nasce Outubro, de Duclós. Os detalhes dessa história podem ser lidos aqui, no texto que Levitan fez para a orelha do livro, editado pelo IEL em 1975.

       Ao lado da cama de Nei uma mala velha e cheia de poesias. Abriu-se. Ali ele guardava os sonhos que passávamos, o despertar futuro e os pesadelos que nos perseguem.


RECADO DE CLÁUDIO LEVITAN AO BLOG DO IEL

Cláudio Levitan em 1975,
por Eneida Serrano






Verão de 2011. Ao saber de nossos planos de publicar o prefácio que escreveu para Outubro, de Nei Duclós, Levitan envia este depoimento especial, além de colaborar com fotos atuais e da época, feitas por sua mulher, Eneida Serrano.
       

      
Autocaricatura

       Muito importante dar foco a esse livro tão emblemático e sempre atual.
       Foi escrito num momento triste da nossa história, quando sofríamos forte repressão militar e viver era um perigo. Os raros poetas corajosos, como Nei Duclós, davam voz ao nosso silêncio forçado, aquele silêncio verde! 
Outubro, como verdadeira obra, guarda o clarão dos novos tempos, esses tempos sempre desejados.

CLÁUDIO LEVITAN
Verão de 2011

A MALA QUE GUARDAVA SEGREDOS

Nei Duclós
A convite do blog do IEL, o poeta Nei Duclós nos envia um texto no qual fala sobre o nascimento do seu livro Outubro, lançado em 1975, e comenta as participações de Cláudio Levitan, Juarez Fonseca, Caio Fernando Abreu e de sua mulher, Ida Duclós, na seleção dos poemas.


        Outubro, meu livro de estreia, reúne poemas escritos no final dos anos 60 e início dos 70. Cláudio Levitan não só ilustrou maravilhosamente o livro, imprimindo a marca de seu talento luminoso, como participou da edição desde o seu início, pois foi ele quem me visitou em Blumenau um belo dia para conhecer os poemas. E dessa visita, relatada na orelha, nasceu a luz da nossa geração. Um livro cult, jamais reeditado, que nunca ganhou qualquer prêmio, mas que não é encontrado em lugar nenhum, a não ser bem guardado nas estantes de seus poucos e fiéis leitores. Quem tem não empresta, porque não volta. Qual o mistério de Outubro?





        

POEMAS DO ACERVO

Arte de Cláudio Levitan

Se eu estiver chegando
Cuidado comigo
Que eu trago uma força
Indestrutível:
O que se dispersa no mundo
Em mim se resume


 NEI DUCLÓS
Poema do livro Outubro
(IEL, 1975, 87p)

POEMAS DO ACERVO

Arte de Cláudio Levitan

Falo de coisas que sei
Com palavras que me deram
A canção que eu faço
Não herdei


 NEI DUCLÓS
Poema do livro Outubro
(IEL, 1975, 87p)

POEMAS DO ACERVO

Arte de Cláudio Levitan

Confio na solidão
Que nos une
E na vontade de quebrar tudo
(Que cresce aos poucos
Como um fruto)


 NEI DUCLÓS
Poema do livro Outubro
(IEL, 1975, 87p)

POEMAS DO ACERVO


Dói entrar na vida
De sonho gasto e pé indeciso
Sem consolo
Do primeiro amor e do primeiro livro

Dói quebrar a espinha no vazio da vida

E arrastar este soldado
Partido pela guerra
Pelas portas dos hospitais lotados


 NEI DUCLÓS
Poema do livro Outubro
(IEL, 1975, 87p)

POEMAS DO ACERVO

Arte de Cláudio Levitan

Maria, acende meu domingo
Com pombos de alegria
E a gritaria da tua vinda


 NEI DUCLÓS
Poema do livro Outubro
(IEL, 1975, 87p)

POEMAS DO ACERVO

Arte de Cláudio Levitan

I
O canto é uma fome, como a infância

II
O dia é a sabedoria do sol
E cada amanhecer tem uma voz

No escuro existem coisas
Que não dormem

III
Cresci como nunca
Em carne, ossos e loucura
E continuarei a crescer, sem dono
E milagrosamente, como as plantas


 NEI DUCLÓS
Poema do livro Outubro
(IEL, 1975, 87p)

POEMAS DO ACERVO

Arte de Cláudio Levitan

O universo partiu-se na cabeça
Ceguei-me em sangue de estrelas
E molhei o travesseiro
Onde guardava segredos

A vida é um passo além do extremo


 NEI DUCLÓS
Poema do livro Outubro
(IEL, 1975, 87p)

POEMAS DO ACERVO


Ah, essa mania de escrever
Para a eternidade
A eternidade morreu de velha
Se eu conseguir,
pelo menos,
fazer vocês rirem
Dispensarei o resto

 NEI DUCLÓS
Poema do livro Outubro
(IEL, 1975, 87p)

POEMAS DO ACERVO

Arte de Cláudio Levitan

Ao Brasil tenho um recado:
Estou vivo, entornando o caldo
Na mesa comum
Com as mãos em brasa

Dentro da noite
Escuto a charanga da ressurreição,
Do parto

NEI DUCLÓS
Poema do livro Outubro
(IEL, 1975, 87p)