Completando a série de
poemas e textos em homenagem aos 106 anos de nascimento de Mario
Quintana nesta semana, reproduzimos o prefácio do seu livro
infantojuvenil “Pé de Pilão”. O prefácio foi escrito por Erico
Verissimo e consta na edição do livro publicada pelo Instituto
Estadual do Livro (IEL) e editora Garatuja em 1975.
MARIO QUINTANA, “PÉ DE
PILÃO”… E EU
Erico Verissimo (1975)
Meus amigos, na minha
opinião Mario Quintana é hoje em dia um dos cinco maiores poetas de
todo o Brasil. Pé de Pilão é um livro que ele
escreveu para crianças de várias idades, mas que também pode – e
deve! - ser lido por gente grande. Mas... como é que eu entro
nessa história toda? Ora, eu não entro. Fico cá do lado de fora da
casa do livro, gritando para todos os ouvidos e todos os ventos que o
livro é bonito, divertido, faz a gente rir e querer saber “que é
que vem depois...” Os desenhos são muito bons e foram feitos por
um famoso artista, Edgar Koetz, gaúcho como o autor da aventura.
Conheço Mario Quintana
faz uns bons quarenta anos. É o sujeito mais “diferente” que
tenho encontrado na vida. Antes de tudo é um poeta, e ser poeta não
é apenas fazer versos, prosa com rima (carvão-coração...
carinho-passarinho... etc.). Ser poeta é saber ver o mundo como veem
os anjos, as fadas, e ao mesmo tempo possuir o dom de comunicar a
quem o lê o que ele vê e sente, em resumo, é ter os olhos para
revelar a face secreta das pessoas e das coisas. Mario Quintana é um
homem que caminha sozinho, como aquele gato do conto inglês. Bom,
vou revelar a vocês um segredo. Descobri outro dia que o Quintana na
verdade é um anjo disfarçado de homem. Às vezes, quando ele se
descuida ao vestir o casaco, suas asas ficam de fora.
(Ah! Como anjo seu nome
não é Mario e sim Malaquias).
Quintana é também um
mágico, só que suas mágicas são feitas com palavras. Agora,
amigos, prestem atenção. Pé de Pilão foi
feito todo em versos, isto é, com frases que têm compasso de
música, e com rimas. Quem já souber ler, que leia este conto em voz
alta e clara. Se não souber, peça a outra pessoa – mãe, pai,
irmão ou irmã mais velha, babá, alguma titia... - que se
encarregue disso. E se durante a leitura por acaso aparecer na
história alguma palavra que vocês nunca tenham visto antes,
perguntem a quem sabe, o que ela significa. É assim que a gente
aprende sua própria língua... e a dos estrangeiros.
Pois é. Deixo com vocês
o caso do Pé de Pilão, que se vai
transformando, de verso em verso, no caso de outros personagens, bem
como um rio que vai correndo para o mar e encontrando no caminho
pessoas, animais e coisas que o leitor não esperava. Leiam esta
história – ou escutem sua leitura – mais de uma vez. E se alguém
um dia perguntar quem é Mario Quintana, podem responder sem medo de
errar que ele é um dos melhores poetas do nosso Brasil. É isto o
que pensa quem gosta dele como de um irmão, um tal de
Erico Verissimo