23.3.16

Josué Guimarães

Neste 23 de março, completam-se exatos 30 anos do falecimento do escritor e jornalista gaúcho Josué Guimarães.

Josué nasceu em São Jerônimo em 7 de janeiro de 1921. Após uma temporada em Rosário do Sul, mudou-se com a família para Porto Alegre em 1930, tendo estudado no Grupo Escolar Paula Soares. Aos 19 anos, casou-se com Zilda Marques, com quem teve quatro filhos: Marília, Elaine, Jaime e Sônia.

Em 1939, foi para o Rio de Janeiro trabalhar como redator da Ilustração Brasileira e desenhista de O Malho e, em 1944, iniciou suas atividades no Diário de Notícias em Porto Alegre. Foi repórter, colunista, comentarista, editorialista, analista político, correspondente internacional, secretário de redação e diretor. Com o pseudônimo de D. Xicote, manteve, no Diário, uma coluna de alfinetadas políticas, retomadas mais tarde no jornal A Hora. Em 1945, retornou a Porto Alegre, reintegrando-se ao grupo de teatro da Rádio Farroupilha.

Em 1948, deixou o Diário de Notícias para tornar-se repórter exclusivo da revista O Cruzeiro no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Paraná, no Uruguai e na Argentina.

Em 1951, elegeu-se vereador de Porto Alegre pelo PTB, ocupando a vice-presidência da Câmara. No ano seguinte, participou da primeira delegação de brasileiros que visitou a União Soviética como correspondente especial do jornal Última Hora, do Rio de Janeiro.

Em 1956, trabalhou como redator na Agência MPM Propaganda. Em 1957, foi chamado por Assis Chateaubriand para reformular o vespertino carioca Diário da Noite, órgão dos Diários Associados.

Em 1960, após o fechamento de sua própria agência de propaganda, assumiu a direção da Agência Nacional, lá permanecendo até 1964. Em 1962, participa de uma antologia de contos publicada pelo IEL – Nove do Sul. Com o golpe militar, passou a viver na clandestinidade sob o nome de Samuel Ortiz. Descoberto pelos órgãos de segurança, respondeu a inquérito em liberdade.

Em 1969, foi premiado no Concurso de Contos do Estado do Paraná. Em 1970, aos 49 anos, com a publicação de Os ladrões, Josué deu início à sua produção literária composta de romances, novelas, contos, crônicas e literatura infantil, desenvolvida até a sua morte. Incentivador da Jornada de Literatura de Passo Fundo, foi homenageado ao ter seu nome atribuído ao Concurso Nacional de Contos em 1988.

Em 1981, casou-se com Nydia Moojen Machado, com quem teve dois filhos: Rodrigo e Adriana.

Morreu em 23 de março de 1986, aos 65 anos.

Depoimentos

Deonísio da Silva

O Estado de São Paulo, 01/02/1987

Quando o jornal Leia me pediu que entrevistasse Josué Guimarães, jamais poderia imaginar que aquela seria a última entrevista de sua vida. [...]
Josué completaria 66 anos neste 7 de janeiro. Aos 18 anos, ele já era jornalista e quando morreu era chefe da sucursal da Folha de S. Paulo em Porto Alegre. Integrara uma das mais célebres equipes jornalísticas: a do Correio da Manhã. Foi também vereador em Porto Alegre, chefe da Agência Nacional, hoje Empresa Brasileira de Notícias, e chefe de gabinete de João Goulart quando este foi secretário de Justiça no Rio Grande do Sul. Perseguido pelo golpe de 64, viveu clandestinamente durante algum tempo.

Mas foi como escritor que ele deixou seu maior legado. Vinte e dois livros publicados e quatro por publicar. Ficaram inacabados outros três, sobre os quais ele falava muito com os amigos, como era seu costume, desenhando personagens na sua fala mansa, agradável, de grande contador de histórias.



Carlos Reverbel, escritor e jornalista

Zero Hora, 15/06/1996

Sua criatividade era de tal ordem que se pode fazer um levantamento, com a maior objetividade, das obras que ele criava, mantendo-as vivas na imaginação, como as que ele chegaria a concretizar. Apesar de nossa convivência não ter sido das mais frequentes, guardo na memória algumas das que o acompanharam, jamais tendo sido escritas, mas que viviam na sua imaginação, enriquecendo-a e, de certo modo, transformando-a em nova fonte de criação. Ele seria um romancista nato.

Algumas dessas criações jamais deixaram de me acompanhar, reproduzidas nas suas próprias palavras. E se tivesse de apontar a obra-prima desse acervo não escrito, indicaria a história da telefonista de um pequeno lugar interiorano onde, tendo havido introdução de instalações automáticas, ficou desocupada, passando, então, a ocupar seu tempo com a criação de intrigas, captadas junto à população do lugar no tempo em que trabalhava como telefonista. Foi uma revolução no pequeno lugar, passando a respectiva população a entrar em incrível estado de beligerância. Chegou a haver mortes de verdade.



Tânia Rösing e Tania Franco Carvalhal

Texto de apresentação do livro Concurso Nacional de Contos Josué Guimarães (UPF; IEL, 1996)

Muitas são as estratégias para a formação do leitor. Variados também são os caminhos através dos quais estimulamos jovens escritores a criarem seus textos. Raras, no entanto, são as oportunidades que estes novos escritores têm para divulgá-los e colocá-los à disposição dos leitores.

O diálogo de um novo escritor com a obra de escritores consagrados constitui o grande desafio de poder lançar-se no mundo das letras, expondo-as ao gosto do público e da crítica.

A escolha dessa interlocução se dá pelo conhecimento não apenas da obra de determinado escritor, mas também e especialmente de suas vivências, de suas experiências pessoais, profissionais, de sua vida, enfim.

Josué Guimarães, escolhido como patrono do Concurso Nacional de Contos que vem sendo realizado pela Universidade de Passo Fundo, pela Prefeitura Municipal de Passo Fundo e pelo Instituto Estadual do Livro, desde 1988, paralelamente às Jornadas Literárias, representa esse ser múltiplo, na pluralidade que emana de suas várias experiências. Da infância vivida em Rosário do Sul junto com seus oito irmãos, do fato de ser filho de pastor protestante, como jornalista, como correspondente internacional, como diretor da Agência Nacional no governo de João Goulart, como perseguido pela ditadura, como companheiro inseparável de Nydia e como contador de histórias, Josué Guimarães manteve-se o mesmo indivíduo, digno e brilhante.

Segundo Josué, "o escritor tem de ser um contador de histórias, visando levar ao povo o próprio conhecimento e uma certa politização. Bem feita, evidentemente. E aí vem a arte literária. Não precisa fazer panfleto, nem boletim de guerrilha, mas pelo menos esclarecer, dizer alguma coisa. De forma literária, não preciosista". 



Texto de apresentação de Josué Guimarães, escrito em junho de 1952 para As muralhas de Jericó (L&PM: IEL, 2001)


Este livro não tem a pretensão de derrubar as muralhas que separam, praticamente, o Ocidente do Oriente, fazendo deste mundo um só.

Para tanto faltam engenho e arte. 

Porém, se não tiver a força e a magia das trombetas do Profeta, se não capaz de destruir as muralhas simbólicas que hoje têm o nome de "Cortina de Ferro", que pelo menos sirva para tirar deste mundo de indiferença uma única pedra.

Só isso justificaria a velocidade de publicá-lo.

Pois a fresta assim aberta daria para que duas mãos se apertassem, fraternalmente, iniciando uma era de compreensão e boa vontade, únicos sentimentos que ainda poderão devolver a Paz aos homens.




Principais obras



Os ladrões 

A ferro e fogo, I

Depois do último trem

A ferro e fogo, II

É tarde para saber

Os tambores silenciosos

Enquanto a noite não chega

O cavalo cego

A casa das quatro luas

Camilo Mortágua

A onça que perdeu as pintas

Xerloque da Silva em: o rapto da Doroteia

As muralhas de Jericó