INFORMAÇÕES DO LIVRO |
Um fantasma de Londres manifestou-se num clube de Londres, pontual, à meia-noite. Escolheu poltrona, pediu Porto, cigarros, jornais, ficou lendo, fumando, bebendo.
Os sócios levantaram-se e partiram, corteses mas assustados.
Na meia-noite seguinte e em mais uma, a mesma manifestação se produziu.
Os sócios não iam ao clube a não ser durante o dia.
À meia-noite, que seria a quarta, o fantasma compareceu, sentou-se, fez sinal ao mordomo - única pessoa presente, pois os garçons também não suportavam a presença daquele ente pálido e triste.
O mordomo já se dirigia para ele e, antes de ouvir o pedido de sempre (Porto, cigarros, jornais), depois de curvar-se, perguntou:
- Por favor: o senhor é sócio deste clube?
O fantasma estremeceu, corou, sumiu. Nunca mais pôs os pés lá.
Cada vida é um clube. Cada vivente é um mordomo. Cada aborrecimento é um fantasma. Quando surgir algum aborrecimento, o mordomo não lhe dê tempo de abrir a boca, indague logo:
- O senhor é sócio deste clube? Não é? Então...
E aponte-lhe a porta da rua.
Do livro Cada um carrega o seu deserto (IEL / Edipucrs, 1994)