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Eu fazia trabalho direito
para ter a companhia de papai.
Eu dividia meu vinho e meu pão
para ter a companhia do irmão.
Então eu ficava meio bicha
para ter a companhia do João.
Depois eu ficava meio macho
para ter a companhia da Maria.
Eu fingia conhecer as orações
para ter a companhia do Senhor.
Eu deixava de ser mesquinho
para ter a companhia do vizinho.
Eu bendizia o partido indecente
para ter a companhia de alguém dele.
Um dia teve a revolução,
eu fazia o que dava na telha,
gritava nos trilhos & dançava no telhado
mesmo sem ter ninguém
para coçar minhas costas.
Eu gostava da revolução,
mas um dia coçou demais.
E eu disse a alguém uma coisa bonita
sem que tivesse perguntado.
Do livro Arte de rua
(IEL/Tchê!, 1995, 2ª Ed., 102p)