24.3.11

Carlos Carvalho por Ivo Bender

Os quatro volumes estão

disponíveis na Livraria do IEL
Ivo Bender assina a orelha do primeiro dos quatro volumes de Teatro reunido, de Carlos Carvalho, publicados pelo IEL em 2002. No livro, estão as peças que nunca foram encenadas.

Carlos Carvalho, homem de múltiplas facetas artísticas, com atuação na área da narrativa, da direção teatral e do ensino do teatro, é autor de um vasto número de obras para a cena. Com um agudo sentido do humano, Carlos Carvalho marca seus textos com um humor patético o qual, seguidamente, se abeira da crueldade – veja-se a personagem de D. Querida, em PT saudações





Paralelamente, constroi peças em que o discurso ideológico, didático e objetivo se faz presente, sendo que nesse caso é exemplar o texto Que se passa, Che?, que põe em cena a vida de Guevara.

Já em outros, como em O pulo do gato, surge a denúncia das injustiças e diferenças que permeiam uma sociedade em que o poder econômico tiraniza a população. Aqui, o suicídio da personagem central ironiza com os planos de habitação que, de fato, levaram alguns mutuários a darem cabo da vida pela absoluta impossibilidade de, com seus salários minguados, acompanharem a elevação do valor das prestações.

Cidadão politicamente engajado, o autor enfrentou, durante os anos da ditadura militar, os percalços e as dificuldades impostos a quem ousasse criar, fosse no âmbito da narrativa ou fosse no da dramaturgia, obra que se desviasse dos obtusos parâmetros cultuados por uma censura oficial estrábica e intimidante. Tranquilo e sereno, Carlos seguia com sua escritura teatral, com a encenação de suas peças, com suas aulas na Universidade: ele sabia que todo o regime de força, por mais truculento e calamitoso, acaba por ser derrotado ou por sua própria caduquice ou pela revolta social. A publicação de seu Teatro reunido, que inclui também as peças destinadas ao público infantil, chega em boa hora. Fazia-se necessária a recuperação dessa obra, dispersa em diferentes edições realizadas por editoras diversas. Finalmente, cabe aqui o registro de que o IEL, nesta já histórica edição, dá lume aos textos que o autor deixou incompletos: desconhecidos e intocados, tais textos-em-processo agora se oferecem para o estudioso da criação dramática, devendo também, certamente, revelar-se como precioso material para o pesquisador da literatura sul-rio-grandense.

IVO BENDER
Texto da orelha do
primeiro volume de Teatro reunido