23.2.18

Desafio Literário - Textos dos vencedores

Publicamos a seguir a íntegra dos textos produzidos pelos três vencedores da segunda edição do Desafio Literário, competição de criação literária que foi organizada pelo IEL durante a última Feira do Livro de Porto Alegre. Durante a competição, que ocorreu em cinco fases eliminatórias realizadas em cinco dias consecutivos, os participantes escreveram sobre temas sorteados em cada data nos seguintes gêneros: miniconto, poetrix, poema livre, crônica e conto. Ao final, foram selecionados vencedores os três participantes que terminaram última fase com a maior pontuação total, classificados nesta ordem: 1) Bárbara Adriana Sanco; 2) Marcel Citro de Azevedo; 3) Fábio Ritter. 

A produção completa dos três primeiros colocados pode ser conferida abaixo: 




1º LUGAR – Bárbara Adriana Sanco


Gênero Literário: MINICONTO

O Clube

Lara olhou para os pés já descalços na beira da piscina. Mário chamou por ela e a viu levantar os olhos devagar. Desde a infância o encontro aos sábados se repetia. Os azulejos viram os dois casarem, terem filhos, netos e o cloro se misturar com o sal dos olhos na viuvez. Lara tomou coragem e entrou. Os braços de Mário a ampararam e os dois colaram as mãos na caminhada silenciosa do amor amigo que sabe falar por gestos.



Gênero Literário: POETRIX

Sorrisos rasgados

Sangue – Separação
Quebrados estão
Os porta-retratos



Gênero Literário: POEMA (Forma Livre)

Para a Terra não sumir

Se vontade não falta
Vira o pé, dá meia-volta

Recolhe o papel do chão
Separa o lixo então

Preserva o bicho ameaçado 
Conserva a mata, o cerrado

Enche o peito de coragem
Pratica pois a reciclagem

Esquece a ambição e a ganância
Ter pouco pode ser abundância

O mundo nunca será perfeito
Mas o mal pode ser desfeito



Gênero Literário: CRÔNICA

Envelhecendo em Porto Alegre

Mesmo sem nunca ter tido um cachorro para justificar uma saída à noite, eu sempre gostei muito de caminhar por Porto Alegre. Já morei em vários bairros, da Zona Norte à Zona Sul e, por mais que o aumento da violência seja uma constatação, ainda gosto de praticar esse hábito.

Verdade seja dita, precisei adaptar-me. As voltas pelo bairro, antes solitárias, foram trocados por passeios acompanhada em praças movimentadas, nas quais se chega e se sai motorizado.

A cidade mudou nesses cinquenta anos, eu também. O que era uma diversão, correr para pegar o ônibus, em meio à chuvarada, depois da escola, com o tempo transformou-se na tarefa penosa de equilibrar os livros da faculdade, as sacolas do supermercado, os filhos de colo e hoje o peso dos joelhos cansados.

Hoje eu não corro da chuva. Deixo que ela passe. Tomo a vacina da gripe todos os anos, mas vai saber... o vírus é mutante. Também tenho de ser. Fujo da correria, dos pingos; levo casaco, guarda-chuva, saio mais cedo.

Na juventude, via e sentia as horas da madrugada de olhos abertos para as novidades. Não vejo mais o amanhecer tendo chegado insone até ele. É o telefone que me desperta para abrir a janela do quarto e ver o raiar do dia e o alvoroçar do passaredo.

Porto Alegre continua linda. Eu a vejo de outros ângulos. Fora das baladas, eu aprecio as estrelas devagar, eu fito a lua. Não há jogos. Não há pressa. Estou na noite da vida e chego à conclusão de que devo vivê-la como se fosse eterna.



Gênero Literário: CONTO

Olhares

Eu e meu irmão frequentamos a escola no tempo das camisas engomadas e dos sapatos lustrados. O pai quase não víamos. A mãe era nosso tudo.

Sua voz doce era um arauto: “- Caio! Edu! Levantem!”

E saltávamos da cama na velocidade de uma lesma, mas incentivados pelo cheiro do café e das torradas.

Vivíamos dias iguais: escola, almoço, tarefas, um pouco de brinquedo, banho, jantar e cama.

Durante anos nunca me preocupei com nada além de apontar meus lápis de cor e aprender de umas equações algébricas.

A casa era o espelho de nossa mãe. Nela não havia nada fora do lugar. Nada que sobrasse ou faltasse. Parecia que as cortinas, que nunca amarrotavam, obedeciam ao seu olhar e não ao vento que soprava pela janela.

Aos dezoito anos, Caio sofreu um acidente. Não sei de onde Dona Eliza tirou forças para ir ao meu encontro e calmamente contar-me que meu irmão mais moço havia falecido. Eu desabei, ela pediu-me fé, força. Fomos ao quartel encontrar meu pai.

Seu Humberto já estava com câncer, não sabíamos na época. Oito meses depois de enterrar meu irmão estávamos de volta ao cemitério para a despedida do meu pai. Sobramos eu e ela.

Quando voltamos para casa ela pediu-me para sentar no sofá e disse: “Edu, não se preocupe comigo. Vai dar tudo certo.” A última frase saiu quase num soluço e um véu caiu dos meus olhos. Vi minha mãe envelhecida, mãos trêmulas, grisalhos cabelos. Como não havia percebido antes?

Depois do luto, voltei ao trabalho e à rotina. 

Ainda moro com Dona Eliza. Ela não corrige mais as cortinas com o olhar. Hoje, sou eu quem lhe calço as pantufas e sirvo o café. 

Entretanto, depois de tudo, ainda não me sinto maduro o suficiente para perdê-la. Ela ensinou-me tudo, menos isso.


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2º LUGAR – Marcel Citro de Azevedo


Gênero Literário: MINICONTO

Philia (Da Amizade)

Estavam os dois ali, o cálice de cicuta à frente. “Não devo temer a morte”, disse Sócrates, tomando o recipiente nas mãos. “Preparei-me para este momento, filosofar é aprender a morrer.”

“O que posso fazer para tornar esse momento menos terrível?” perguntou Plato, ao enxugar o suor da fronte do mestre.

“Escreva! Escreva muito, escreva todos os dias sobre as nossas conversas, o vinho que bebemos nas tabernas, o nascer do sol na Ática e sobre o Peloponeso, onde amamos a mesma mulher.  Escreva sobre a sabedoria trazida pela amizade com os livros e com os homens virtuosos. Escreva sobre nós!”

Falava ainda, quando Plato arrancou-lhe o veneno das mãos e sorveu-o em uma tragada.

Perdoado por Atenas, Sócrates passou a escrever diálogos em que Plato ressussitava, movendo-se nas dobras do papiro, respirando no tecido do pergaminho.



Gênero Literário: POETRIX

Dominatrix

Xinga, linda em couro
Botas, algemas, esporas.
Em cada esporro, morro.



Gênero Literário: POEMA (Forma Livre)

Um poema para Gaia

Antes de ser homem, fui pedra
planta, protista e protozoário;
anfíbio, lagarto terrível
ave marinha e fera irascível.
O homem que sou
é a soma de todos os seres.

Vi Pangeia e as glaciações, 
sofri as convulsões telúricas
Que tornaram a geografia sustentável.
Hoje, equilíbrio é um tema afável
Sem bioma, não há poema
Sobra poesia na ecologia

E se asteroide, tsunami ou vulcão
Findarem flora e fauna sem um som;
nem estrondo nem gemido, um suave Armagedom;
Creia, Gaia, não haverá problema
Voltarei à praia, um grão de areia
Todo poema é um ecossistema.



Gênero Literário: CRÔNICA

A casa noturna

Mês passado estive alguns dias no interior. No interior do interior, para ser mais exato. Sabe onde o Diabo perdeu as botas? Se você dobrar à esquerda e andar mais uns 30 km, encontrará a árvore de Judas. É na ravina mais abaixo, ali onde o vento faz a curva, o local em que montei o acampamento para passar a noite.

Estava sozinho, tal qual um político honesto na Capital Federal, um congressista preocupado com o bem comum, boa governança, estas coisas. Sozinho, mas não solitário. Trazia comigo uma luneta super potente, um quase telescópio.

Quando ela caiu, caiu por inteiro. Era uma escuridão total, a treva absoluta. Montei o tripé, ajustei o foco, na noite desluada o show iria começar.

Não há espetáculo mais grandioso do que o céu noturno, em uma noite de Lua Nova. Antes do advento da iluminação elétrica, as pessoas prestavam atenção aos astros, ao seu deslocamento do entardecer à aurora, e às figuras que se formavam ao longo do suceder das horas ou o correr das estações. Temiam os fogos-fátuos e procuravam estrelas cadentes. Neste mundo de neon e pixels, em que telas coloridas de todos os tamanhos e formatos desbancam o firmamento e seus mistérios, a magia da noite volatilizou-se em uma sucessão de horas amorfas, uma contagem regressiva para amanheceres que ninguém testemunha.

Ajustei a lente para a Nebulosa de Órion, e contei dez, doze estrelas. Seriam elas apenas buracos no céu, a filtrar a luz mortal que permeia tudo?

Uma nuvem inoportuna se aproximou, e depois outra e mais outra. Logo, uma garoa miúda começou a cair, molhando o equipamento e o meu exemplar da poesia reunida de Sylvia Plath. Um trovão se fez ouvir, e um relâmpago cortou os ares tal qual isqueiro feérico. A garoa tornara-se tempestade.

Encolhido na barraca, antes de fechar o zíper, tive a impressão de que os Gêmeos, lá em cima, acenaram por detrás de uma nuvem.

A manhã seguinte nasceu coberta e descorada.

Subi até a árvore de Judas e percorri, devagar, os 30 kms da estradinha vicinal até a RS-666, ainda mais maltratada pela tempestade noturna. Na encruzilhada, um embrulho amarelo, grande.

Desatei o barbante, abrindo-o. Surgiu um par de botas de couro negras. Eram muito compridas, com saltos altíssimos e um brasão heráldico na extremidade do cabedal. Se eram do velho Cão, eu não sei, mas cheiravam como se fossem.

Examinei melhor o papel do embrulho. Estampada na superfície amarela, localizei o endereço de uma conhecida casa noturna de Brasília, praticamente vizinha ao Congresso Nacional.



Gênero Literário: CONTO

Além da Física

Dizem que o segundo casamento é a vitória da esperança sobre a experiência. O quinto casamento, então, eu não posso fazer ideia do que seja.

Conheci Lindinha num bar. Não foi um bom perfil no Tinder, blue eyes, barriga negativa ou qualquer vantagem deste tipo o elemento decisivo para que ela me acompanhasse até o apartamento, depois de duas garrafas de champanhe (espumante é para os fracos) e muito xaveco (será que a gurizada ainda usa este termo?).

Ela mesma disse que topou me acompanhar por causa do papo maduro, cabeça, equilibrado... e do perfume Armani, ela adora Armani. Rolou uma conexão imediata, algo que transcende a Física.

Depois de duas semanas, começamos a namorar; após um mês, morávamos juntos. “Loucura”, diziam os meus amigos da roda de chope do Barranco, “ela é trinta anos mais jovem do que você”. “Bobagem”, eu respondia com o velho clichê, “idade é questão de cabeça”. Se a Ana Maria Braga pode, eu também poderia. Nisso, até o Araújo concordou.

Montei um apezinho para ela. Estou na sala agora, e trouxe o tapete e o quadro que ela pediu. Já estou um pouco alcoolizado, reconheço. Lindinha falou que iria chegar às nove, tinha prova na faculdade. Às dez, bebi o meu segundo uísque. Às onze, vodka. E agora, meia-noite, com rodas as garrafas esvaziadas, encontro-me bebendo esta porra de latinha de cerveja. Destas que se compram no Super a R$ 1,99.

Acho que estou fazendo um papel ridículo, de plantão aqui neste sofá. Um papel inapropriado para um homem maduro. Minha terceira mulher sempre dizia que eu era uma criança grande, e a quarta me chamava de Peter Pan.

Talvez elas tivessem razão.

Gostaria de ter bebido menos. Vou ter que confessar, já passei da fase do macaco e temo chegar à fase do leão. Nunca fui um homem violento, receio perder as estribeiras.

Serei direto. Lá vai, então...

Ops, não sei gravar direito neste WhatsApp. Vou tentar de novo. Testando, um, dois, três...

Ouviu, Araújo? É para você me buscar aqui em uma hora, pode ser?

Você é meu amigo, então vou te contar agora, vou deixar gravado para você entender a minha situação. Estou aqui puxando as lembranças, auditando os últimos meses desta minha vida louca. Sim, Lindinha está me enlouquecendo. E no mau sentido!

Há uns minutinhos atrás, fui no banheiro, cheguei a vomitar no vaso (será que a Fase do porco vai chegar antes da do leão?). Procurando lencinhos na gaveta, encontrei um pacote de camisinhas e uma cartela de pílulas.

Cara, será que eu cheguei a contar a ela que fiz vasectomia dez anos atrás?

Vê se não me fala esta porra toda pra ninguém, viu Araújo? Depois de ouvir, apaga a gravação.


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3º LUGAR – Fábio Ritter


Gênero Literário: MINICONTO

Prioridades

Desde que chegou à idade adulta, Felipe priorizou tudo o que lhe desse conforto e segurança. Dos estudos sem fim ao trabalho até em dia santo. A posteridade seria sinônimo de prosperidade. Até que veio o diagnóstico: estava doente, estava mal. Já não tinha os pais para procurar colo, nem amadas, nem amigos. Lembrou-se do grupo com o qual jogava basquete na infância e na adolescência. Mário e Pedro eram os mais próximos, traziam lembranças felizes. Tentou achar o contato deles, mas não encontrou. Foi quando percebeu que já estava doente há muitos anos. 



Gênero Literário: POETRIX

Portão de casa

Celular na mão
Revólver na cabeça
Outra vida no chão



Gênero Literário: POEMA (Forma Livre)

Infinito Finito

Olho o sol refletido no rio
Infinito, bonito, bendito.
É algo que quero sempre admirar
Temo que as pessoas não queiram
Ver, saber, aprender
Que é uma paisagem em perigo.

Meio ambiente, utopia da necessidade
Necessidade para o curso da vida
Bonita, bendita, finita.



Gênero Literário: CRÔNICA

Luzes Noturnas

A noite me encanta desde que me tornei um adulto. Não lembro a importância que ela tinha para mim antes disso. Parece que à noite tudo é mais intenso: Alegria, dor, amor, cansaço ou desejo. Uma amiga hipocondríaca alerta: “A febre sempre aumenta à noite”. Verdade, ...as febres, todas elas.

Um show de dia não tem a mesma graça que teria à noite. Não é à toa que os festivais de música que duram o dia inteiro guardam as estrelas principais para quando a luz do sol se põe para dar lugar aos holofotes que iluminam o palco. É a vez dos Coldplays, U2s e Madonnas da vida darem o ar da graça. Noite combina com o ponto máximo, com o êxtase.

Eu já andei sozinho pela noite. Várias vezes. Gosto também de viajra sozinho. Em um determinado astral, talvez possa encontrar a explicação, já que sou sagitariano e dizem que estes não gostam de amarras. Assim como já viajei sozinho, vi a vida noturna em lugares diferentes. São Paulo, Tel Aviv, Cidade do México, Montevidéu ou Colônia. Em cada uma delas, as luzes noturnas têm uma cor diferente, um significado distinto, reluzem sobre monumentos e paisagens que ficam estranhamente mais belos. Estranhamente porque a luz natural solar é a mais bela para a maioria das pessoas talvez, mas não para os amantes da noite.

Entretanto, o que todos os lugares têm em comum é a transformação noturna das pessoas. Elas são outras. Riem mais alto, flertam com mais desejo, cantam com mais alegria. Certo que muitas delas têm uma ajudinha do álcool para se desinibir, mas é uma contribuição que não tira o mérito da noite.

Eu passei a maior parte da minha vida em uma cidade cujo apelido dado por um jornalista da região era “a madrugada do Rio Grande”. Não nasci em Santo Ângelo, mas passei toda a adolescência e boa parte da idade adulta lá. Se você sair à noite em Santo Ângelo, principalmente nos meses mais quentes do ano, entenderá o porquê do apelido. Talvez venha de lá minha paixão pela noite, hora em que a febre fica mais alta, quando todos os gatos são pardos e todos os outros ditados e clichês.

Não importa se vou para Porto Alegre, Londres, Pelotas ou Estocolmo. Só saberei realmente como são esses lugares depois que anoitecer.



Gênero Literário: CONTO

Tempo em vão

Elvira trabalhou uma vida inteira no salão de beleza do bairro para dar o melhor a seu filho. Deixava de comprar coisas para si para que o garoto pudesse frequentar a melhor escola que ela conseguia pagar, sem falar nas artes marciais, na escolinha de futebol... Agora, aos sessenta anos, estava ela diante da foto de Elias naqueles tempos de garoto. Cada lágrima que caía no porta-retratos era como se representasse um esforço em vão.

Não foi fácil para ela seguir adiante sozinha. O pai do garoto sumiu pelo mundo sem deixar rastro. Não apareceu nem quando foi chamado pela justiça para o teste de DNA. O juiz declarou-o presumidamente o pai, mas de nada adiantava sem um endereço sequer para cobrar as obrigações dele.

Elias cresceu naquele bairro de classe média baixa na capital gaúcha, jogava bola nos campos barrentos, brincava e era uma criança feliz. Porém, na adolescência algo começou a brotar nele. Um misto de rancor e revolta. Acostumado a andar com jovens do topo da pirâmide social, só tinha olhos para as privações da vida que tinha naquele lugar junto à mãe.

- Não posso nem trazer meus colegas para fazer trabalhos de aula nesse cafofo – dizia sem medo de magoar a mãe ao se referir dessa forma ao lar que ela mantinha com sacrifício. 

Os amigos e parentes dela alertavam que ela fazia muito as vontades do guri. Diziam que ela deveria mudar antes que fosse tarde. Ela dava de ombros à época, agora doía que estivessem certos. “Os homens amadurecem mais tarde que as mulheres”, disse alguém para consolá-la há alguns anos. Mas agora parecia ser tarde, ele já estava com quarenta e dois anos. Ela amadureceu na marra quando engravidou aos dezoito, ele ainda não.

De repente a campainha soou. Era uma vizinha.

- Olá, comadre! Vim te acompanhar, mas não parece pronta.

- Eu não vou – disse Elvira.

A vizinha tentou argumentar que o filho precisava dela. Era réu primário e um primo da vizinha que era advogado iria ajudá-los. Mas nada faria Elvira mudar de ideia. Afinal, estava nessa situação porque se envolveu com uma gangue racista de internet. Enquanto a mãe trabalhava, ele fazia ofensas racistas junto a seus amigos. Até o dia em que se meteram com uma atriz famosa e a polícia veio atrás.

- Por favor, comadre, vá embora – pediu Elvira – Ele que se vire, quem sabe amadurece, senão é falta de caráter mesmo.

A vizinha saiu, Elvira deu um longo e triste suspiro, apanhou o porta-retratos novamente e voltou à poltrona para sofrer uma dor que só ela sabia dimensionar.