29.4.15

Buscador solitário
Sílvio Duncan


Não é preciso encontrar caminhos
que eles vêm à nossa procura
e sim escapar a todos os caminhos,
envolver-se em solidão,
ouvir a voz-bomba dos comícios,
a voz-fome dos mendigos,
a voz-ilusão dos vigaristas.
E juntar, paciente,
pedaços de silêncio,
remexer em imagens não nascidas.
Depois mergulhar
na cidade feita de palavras
dos fazedores de catedrais,
dos tambores de outra vida,
dos instrumentos de sombra colorida.
Envolver-se, depois,
na solidão dos semelhantes
que nem para si mesmos falam.
E chegar, depois,
ao princípio da verdade
que vive em não palavras.



                                                    Do livro Profetas do cimento (IEL/Movimento, 1983)