4.12.14

Autor na Paz - Ari Riboldi em Guaíba



Imagens do encontro do escritor Ari Riboldi com detentas da Penitenciária Feminina de Guaíba, realizado em 11/11 por meio do Autor na Paz, programa que faz parte do projeto Autor Presente, do IEL, e tem levado escritores a presídios, unidades da Fase, asilos, territórios de paz, pontos de leitura e pontos de cultura.

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Depoimento do autor:

   Agradeço a oportunidade de participar, como autor convidado, de projeto resultante de Parceira IEL/Susepe. Foi um momento gratificante para mim, como autor, e uma experiência singular e enriquecedora conhecer e fazer palestra para grupo de detentas da Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba na tarde do dia 11/01/2014.
   Espero ter contribuído, com minha modesta experiência, para o projeto da Susepe de valorização da comunidade penitenciária e de incentivo à leitura. Aliás, quero agradecer pela confiança que foi depositada em meu trabalho e na minha pessoa, como autor e pesquisador de linguagem, para essa atividade de encontro de Autor na Paz, ação do IEL e da Susepe junto à comunidade em privação de liberdade.
   Confesso que a experiência foi singular, única, impactante. Em vários momentos da conversa, lá entre as detentas, meu pensamento fugia e imaginava como seria a casa delas, a família, filhos, netos, os vínculos sociais. Sinto-me gratificado pelo honroso convite para este projeto. Para mim, foi um presente, com certeza o maior presente deste ano e que ficará para sempre marcado em minha memória. Senti que minhas palavras, em dados momentos, calavam profundamente na mente daquelas mulheres. Procurei transmitir-lhes otimismo e incentivo. Falei do mundo fascinante das palavras, expressões e ditados. Falei sobre o grande poder das palavras, elas que comandam nossas mentes e vidas. Ressaltei a importância do domínio de todos os níveis de linguagem, da gíria à forma culta e protocolar. Mencionei o mundo admirável dos livros, que podem ser companheiros, conselheiros e amigos em qualquer circunstância. Falei do valor do conhecimento que liberta e que jamais pode ser tirado da gente.  Falei com a alma, com o coração. Percebi o olhar melancólico e distante de algumas, mas senti o brilho da esperança no olhar de muitas.
   No fim, recebi muitos, calorosos e demorados abraços, intensos, puros. Eu me senti com os braços de filhos, de irmãos, de pais distantes delas. Ali estava eu como portador de uma mensagem de vida, de outra vida, de outra oportunidade de vida nova e diferente. Nada se falou sobre isso, todavia o silêncio de alguns instantes e o eco de gritos que vinham de outras galerias gritavam bem alto para elas e para mim. Muitas me falaram de seus filhos, que estavam aguardando a visita deles, que lhes dariam um livro para que também lessem, um livro no qual eu escrevera uma mensagem. Tenho a certeza de que, por alguns instantes, elas voaram para longe, esqueceram os momentos de expiação. Mais que isso, creio firme que muitas delas passaram a valorizar os livros, se sentiram com maior autoestima e com propósito de uma nova chance para recomeçar. Uma lição, enfim, para elas, mas sobretudo uma grande e enriquecedora lição para mim.


Ari Riboldi