29.9.14

Sergio Faraco lê o conto "A touca de bolinha"


Sergio Faraco lê um trecho do seu conto "A touca de bolinha", publicado no livro 35 melhores contos do Rio Grande do Sul (IEL/ Corag, 2003, org. Maria da Glória Bordini).

"Certa vez eu voltava para casa numa noite de névoa e frio, arrastando pela calçada suburbana meu corpo aquecido pelo vinho. Trazia na mão, a picar nas pedras, minha bengala de rengo, na outra um pequeno embrulho com as sobras da janta num bar esfumaçado. À curta distância do sobrado onde morava avistei um vulto na soleira de uma porta, como um cão que dormisse ao relento, vulto que não se movia e que em dado momento se me afigurou como apenas uma mancha nas tábuas da porta. Ao confrontá-lo no passeio oposto me aconteceu ouvi-lo e eu jamais soubera que cães vadios pudessem soluçar. Atravessei. Na soleira, encolhida, estava uma criança. Com as picadas da bengala ela ergueu apressadamente o rosto, descobrindo-o para a tênue claridade da luminária distante. Era uma menina. Daquelas meninas que às vezes você vê na rua e que te abordam, te tocam no braço, "dá um troquinho, tio" e aparecem e desaparecem misteriosamente, como os cães vadios."