21.11.13

Mundial Poético - Telma Scherer

Relato da escritora Telma Scherer sobre sua participação no Mundial Poético de Montevideo, realizado no Uruguai, que contou com apoio do IEL.


"Impossível não lembrar aquela velha canção de Leo Buscaglia conhecida no Brasil na voz de Milton Nascimento: “Na minha cidade tem poetas, poetas...” e que se refere justamente a Montevidéu. Durante sete dias, estiveram reunidos cerca de cinquenta poetas uruguaios e vinte estrangeiros de vários continentes para o Mundial Poético de Montevideo, evento idealizado e  produzido por Martín Barea Mattos. 

Quase inteiramente dedicado a performances de poesia falada, o Mundial ocupou vários  espaços, entre eles a Sala Verdi, um belo e conservado teatro antigo, a Biblioteca Nacional, os jardins  do Museo Nacional de Artes Visuales, o teatro municipal do Cerro, este um legendário bairro  proletário da cidade. Assim, espalharam-se pelas margens continentais do Rio da Prata as vozes de  poetas uruguaios, britânicos, argentinos, chilenos, equatorianos, norte-americanos, franceses e espanhóis, entre outros, fazendo ressoar a diversidade e a contundência da produção poética contemporânea. 

Da ação Fluxus à teatralização, do canto à utilização do vídeo, com ou sem instrumentos e muitas vezes reduzida à simples emanação da voz ritmada, a performance poética apresentou-se em suas variadas possibilidades. Lançaram-se livros de poesia e sobre poesia, com destaque para os mais recentes volumes de Raul Zurita, Queridos seres humanos, e de Ernesto Carriòn, Novela de Dios, sem contar a tese doutoral de Irina Garbatzky Los ochenta recienvivos - Poesía y performance en el Río de la Plata.

Destaco as performances da poeta e pintora americana C. Mehrl Bennett, que apresentou a ação Este Cuadro no es un Círculo, e de seu esposo John Bennett, poeta bilíngue e PhD em Literatura Latino-Americana. O francês Julien d’Abridgeon chamou a atenção pelo virtuosismo no uso da voz com efeitos sonoros produzidos pela utilização de dois microfones. O uruguaio Clemente Padín, um dos precursores da performance poética nos anos 80, comoveu a todos com as ações nas quais o público se envolveu ativamente, como a “Homenagem a John Cage”. Martín Barea Mattos, num intervalo de seu trabalho de produção, brindou-nos com uma apresentação noturna de “Por hora por dia por mes” junto a sua banda, mesclando vídeo, rock e poesia.

Da minha parte, apresentei-me em três oportunidades. Preparei duas performances de poesia falada, uma dela com poemas de meus livros Desconjunto e Rumor da casa, e outra com textos do livro Depois da água, atualmente no prelo através do Prêmio Elisabete Anderle. Em outra ocasião, apresentei cinco faixas de meu trabalho mais recente de poesia sonora intitulado Velo o vento

Estive presente no Mundial Poético graças ao apoio do Instituto Estadual do Livro, que  oportunizou minha ida até Montevidéu. Agradeço a Laís Chaffe e sua equipe e ao Governo do Estado do Rio Grande do Sul por esta oportunidade.

Telma Scherer."