Nunca mais
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Era uma noite fria de dezembro na cabana escura entre as montanhas. Eu tomava conhaque em frente à lareira e sentia no ombro direito o roçar das asas.
O corvo, empoleirado sobre a minha cadeira, calado, contemplava as chamas. Eu ali, perdido em pensamentos, deixava que o corvo falasse de tempos em tempos: “Nunca mais”.
“É, nunca mais”, eu repetia, servindo-me mais conhaque.
Pescaria
Pescaria
Pai e filho pescam no lago. Depois de alguns minutos explicando qual o posicionamento correto para jogar a rede, o pai faz uma demonstração, e ela afunda na água com estrépito, sob o olhar orgulhoso do filho. O pai começa a puxar e logo percebe o grande peso. “Me ajuda aqui, filho, que esse é grandão!”, diz ele.
Quando puxam para dentro do barco, dão de cara com um homem enrolado no traçado, mexendo-se devagar. Não um simples homem, mas um anjo, com asas e tudo.
“De novo?”, reclama o filho, desapontado.
“Vamos tentar de novo, mais pra lá”, diz o pai, largando o anjo de volta na água e apontando para o meio do lago.
Contos do livro Minimundo (IEL, 2006)