24.10.13

Minimundo
Bernardo Moraes

Nunca mais 
ADQUIRA ESTE LIVRO

Era uma noite fria de dezembro na cabana escura entre as montanhas. Eu tomava conhaque em frente à lareira e sentia no ombro direito o roçar das asas. 

O corvo, empoleirado sobre a minha cadeira, calado, contemplava as chamas. Eu ali, perdido em pensamentos, deixava que o corvo falasse de tempos em tempos: “Nunca mais”. 

“É, nunca mais”, eu repetia, servindo-me mais conhaque.


Pescaria

Pai e filho pescam no lago. Depois de alguns minutos explicando qual o posicionamento correto para jogar a rede, o pai faz uma demonstração, e ela afunda na água com estrépito, sob o olhar orgulhoso do filho. O pai começa a puxar e logo percebe o grande peso. “Me ajuda aqui, filho, que esse é grandão!”, diz ele.

Quando puxam para dentro do barco, dão de cara com um homem enrolado no traçado, mexendo-se devagar. Não um simples homem, mas um anjo, com asas e tudo.

“De novo?”, reclama o filho, desapontado.

“Vamos tentar de novo, mais pra lá”, diz o pai, largando o anjo de volta na água e apontando para o meio do lago.




Contos do livro Minimundo (IEL, 2006)