30.9.13

Quem sabe debulhas o trigo...
Sergio Napp


quem sabe debulhas o trigo
pelas manhãs?
quem sabe lanças o milho
sobre a terra
para que venham comê-lo
as aves e os pardais, mãe?
quem sabe sovas o mate
na expectativa de que a vida
possa ser?

quem sabe antecipas
o que não se conhece
e celebras o voo do bem-te-vi

há um mar imaginário em teus olhos
e um barco que te carrega

não te importas em desvendar os mistérios
a palidez que te cabe te serve de véu

colocar a mesa é cerimônia diária
que te consome as forças

cultivas a solitude
os dobres

as canções que não cantas

depositas flores no vaso
como se fosse a urna de quem partiu

és a mesma, embora diferente
e nada que se move te abala

o mundo foi feito por quem

desconhece a natureza humana



Poema publicado na revista VOX nº 5