19.1.12

Cicatrizes nas árvores
Felippe D'Oliveira

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 Não importa o que foi.
Não importa o que será.
Fixa a imagem do teu instante
na superfície ou no coração da vida
e esquece o tempo.
Embora ao nascer contenha todo o teu universo,
a tua verdade desta hora
não corresponde à tua verdade da hora

    vindoura.

Ele fez uma pausa
e continuou:

Vive a tua hora
como se gravasses o teu nome
na epiderme de um tronco novo.
Mas não voltes mais tarde para junto dessa

    árvore,
porque podes não reconhecer o teu nome
nas cicatrizes das velhas letras.


Ele calou, com o ar sublime dos que ainda

    definem e aconselham

e eu não falei,
por achar inútil revelar-lhe
que a culpa é apenas da árvore.




Do livro Felippe D'Oliveira: Obra completa ( IEL / UFSM, 1990). 
Poema publicado originalmente em Lanterna Verde (1926).